Thursday, December 31, 2009

TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano II Número 13 - janeiro 2010

Poesia - Celso de Alencar

Maria da Glória
Sem título - Técnica mista óleo sobre tela - 2007 - 70x120cm


Havia Dias Em Que Eu Me Transformava Em Árvore

Eu conheci os homens
que cantavam nos prostíbulos.
Eles caminhavam pela estrada
conversando baixinho
como se falassem segredos.
Uns entravam à direita
outros à esquerda
e desapareciam cantando.

Eu de longe
ouvia as suas vozes
e me perguntava:
por que esses homens carregam
essas mesas nas costas?
Por que usam sapatos brancos
com bicos tão afinados?
Por que caminham com
tanta alegria e risos?
Eram eles estranhos
e todos possuíam vozes líricas.

E quando retornavam,
e eu os via muito
próximos dos meus pés,
traziam lenços femininos coloridos
perfumes que faziam inveja às flores
e frutas como peras, uvas, maçãs, nas mãos.
Quando passavam por mim
eu me recolhia
e me transformava em árvore.
Eu conheci, muito próximo,
muito perto de mim,
os homens que cantavam
nos prostíbulos.

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